Sem Eletrobras e ainda sem J&F, a Eletronuclear virou mais um problema bilionário para o governo

Sem Eletrobras e ainda sem J&F, a Eletronuclear virou mais um problema bilionário para o governo.
A Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas nucleares de Angra dos Reis, está de mãos atadas e vive de pedir ajuda. Em um ofício direcionado à ENBPar, a empresa que representa a União no setor, solicitou um aporte emergencial de R$ 1,4 bilhão para evitar o "colapso operacional e financeiro" ainda neste ano. Se isso não acontecer, o caixa da empresa deve zerar as contas em novembro. Para entender como chegamos aqui é preciso mergulhar em um jogo de empurra que envolve interesses contrariados e recursos escassos.
A Partida com Risco de Colapso
A Eletrobras, que era dona de 68% do capital total e 35% do voto da Eletronuclear, vendeu sua participação por R$ 535 milhões para a Âmbar Energia, do grupo J&F. Mas o negócio ainda não foi concluído e não há ninguém disposto a assumir as dívidas da empresa. A Axia Energia afirma que liberou seu ativo em 2022, mas que não é a proprietária formal da participação. Já a Âmbar Energia ressalta que não pode injetar recursos pois o negócio de compra-pelo não foi concluído. E assim a Eletronuclear segue em pé, sem patrão e sem dinheiro.
Enquanto o jogo de interesses contrariados segue em andamento, o Ministério da Fazenda resiste à ideia de novos aportes, especialmente em meio às negociações de um empréstimo de R$ 20 bilhões aos Correios, garantido pelo Tesouro. O argumento é que qualquer socorro precisa estar embasado em um plano de sustentabilidade. Por sua vez, a ENBPar tenta convencer o Tesouro de que o repasse é uma pré-condição para reorganizar a empresa e evitar a antecipação de R$ 6,5 bilhões em dívidas com o BNDES, Caixa e bancos privados.
A Corda Bamba da Usina de Angra 3
A Eletronuclear acumula dívidas com as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), fornecedores de combustível. Segundo a conta, o montante atual é de R$ 700 milhões. A empresa também gasta cerca de R$ 1 bilhão por ano para manter Angra 3, a usina que nunca saiu do papel. A situação financeira é tão crítica que a empresa deve pagar R$ 570 milhões em dezembro a BTG e Banco ABC referentes a obras para estender a vida útil de Angra 1 por mais 20 anos.
A Eletronuclear nasceu em 1997, como resultado da reestruturação da Nuclebrás, a antiga subsidiária da Eletrobras que atuou nos anos 1970 em um programa nuclear do país. A ideia era concentrar a operação das usinas Angra 1 e 2 e concluir Angra 3, um projeto interrompido diversas vezes no trajeto. Segundo a lei que rege o setor, a geração de energia nuclear não pode ser privatizada e por isso a Eletronuclear ficou na União, apesar da Eletrobras se tornar uma empresa de capital misto.

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